DÉBORA ÁLVARES / BRASÍLIA
Um rato morto, uma foto e um post no Facebook com uma crítica ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Embora tenha dito, em nota divulgada ontem, que acha "lícita e saudável, principalmente entre os jovens", a manifestação na internet, Calheiros mandou demitir as duas estagiárias que publicaram o conteúdo, uma delas sobrinha do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa.
O episódio que levou à demissão das duas jovens aconteceu no dia 6,
antes do recesso de carnaval. As estudantes estagiavam no Serviço de
Administração da Secretaria de Recursos Humanos do Senado, que funciona
no prédio da gráfica da Casa.
O rato quebrou a rotina daquela manhã e acabou morto por uma copeira
que bateu nele com um calendário de papelão. Enquanto esperavam que o
animal fosse retirado de lá, as jovens decidiram fotografá-lo. A colega
da sobrinha de Barbosa postou a imagem em sua página no Facebook com a
seguinte legenda: "E a gente que achou que o único problema aqui fosse o
Renan Calheiros". A sobrinha de Barbosa, Ariadna Barbosa Gomes
Oliveira, também publicou a foto com comentário semelhante.
Após a demissão, as jovens apagaram seus comentários da rede - a
sobrinha de Barbosa chegou a encerrar a sua conta no Facebook; ela
afirmou estar proibida de dar entrevistas. As fotos, porém, já haviam
sido replicadas.
A demissão das estagiárias repercutiu entre funcionários da Casa.
Servidores que haviam compartilhado críticas, abaixo-assinados ou
qualquer outro comentário sobre a eleição do presidente do Senado se
apressaram em apagar qualquer vestígio das publicações.
Alvo de uma petição defendendo seu impeachment na internet com mais
de 1,5 milhão de assinaturas, Renan, por meio da assessoria, negou que
fosse retaliação e que tivesse sido consultado sobre o caso. No dia 26
do mês passado, o STF recebeu uma denúncia contra Calheiros, na qual o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusa o presidente do
Senado de usar notas frias para comprovar sua renda. O pedido de
investigação será relatado pelo ministro Ricardo Lewandowski.
Em nota, a Secretaria de Comunicação do Senado explicou que a
demissão ocorreu devido a um ato de indisciplina, classificando o
conteúdo do post como ofensivo. "Conforme definido na Lei nº
11.788/2008, o estágio é ato educativo, desenvolvido no ambiente de
trabalho, destinado à preparação do educando para o trabalho produtivo.
Nesse contexto, a Administração, ao tomar conhecimento de um ato de
indisciplina, tem o dever de agir de acordo com as normas vigentes e em
cumprimento ao Termo de Compromisso assinado pelas estagiárias".
A assessoria ressaltou ainda que o fato ocorreu em horário de
expediente e que as jovens se utilizaram de instrumentos de trabalho.
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