quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Só volto para o presídio de Pedrinhas morto, diz foragido no MA

JULIANA COISSI
MARLENE BERGAMO

ENVIADAS ESPECIAIS A SÃO LUÍS (MA)



"Eu dou um tiro na cabeça, te juro, se eu tiver que me entregar. Para Pedrinhas só volto se for morto."
Ao conversar ontem pela manhã com a Folha, por telefone, o tom de voz de Carlos Máximo Neto, 27, era ao mesmo tempo de ameaça e de súplica. Temia pela vida.

 
Neto é um dos 60 presos do Maranhão que ganharam o direito à saída temporária de Natal mas que não voltaram ao complexo de Pedrinhas e outros presídios na data definida pela Justiça. No fim do ano, 309 detentos maranhenses receberam o benefício.

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Ele deixou Pedrinhas em 23 de dezembro, uma semana após a unidade ser palco de uma cena de barbárie.

Quatro presos foram mortos em rebelião, sendo três deles decapitados. Já são 62 mortes no complexo desde o início do ano passado.

A superlotação acentua a rixa entre facções criminosas que dominam Pedrinhas. Os grupos se dividem entre os presos da capital, do "Bonde dos 40", e os do interior, chamado de PCM (Primeiro Comando do Maranhão).


No caso de Neto, o temor pela volta às celas não é compartilhada por familiares, que não o querem como foragido.

A reportagem acompanhou anteontem o encontro da irmã de Neto com o juiz auxiliar da 1ª Vara de Execuções Penais, Roberto de Paula.

"Eu sei como está lá em Pedrinhas, estamos com medo. Mas ele está no fim da pena, precisa se entregar para conseguir logo sair da prisão", afirmou a irmã ao juiz.

Roberto de Paula ouviu os primeiros argumentos e a questionou em seguida sobre o paradeiro do irmão.

Ela admitiu que Neto estava escondido e partiu para um segundo apelo. Retirou o celular da bolsa e pediu ao juiz que ligasse para o foragido de Pedrinhas: "Doutor, convença meu irmão".
O magistrado se recusou, e ela deixou a sala com uma promessa: no dia seguinte, voltaria com o irmão rendido.

A jovem conhece bem o juiz, já que costuma interceder não só por Neto, mas também por outro irmão, detido em outro presídio local.

Condenado por assalto, Neto perambulou por cinco anos em unidades de Pedrinhas. Os últimos dois viveu na penitenciária, local criado para presos do regime semiaberto (mas, sem trabalho na cidade, cumpria pena como se estivesse no fechado).

'inferno'

A angústia da irmã, porém, não superava o medo do rapaz. "Lá em Pedrinhas tem ladrão atirando um no outro. Ninguém quer voltar para aquele inferno", disse à reportagem ainda pela manhã.
No início da noite, porém, foi surpreendido na casa da avó (o esconderijo) por um grupo de policiais. Recapturado, foi levado a Pedrinhas.

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