Marcelle Souza
Do UOL, em São Paulo
Primeiro lugar geral no vestibular 2014 do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), o maranhense Marcos Santana de Oliveira, 19, deixou a cidade natal e estudou dois anos em Fortaleza, a cidade com mais aprovados no exame deste ano.
O caminho até a tão sonhada vaga, no entanto, foi bem maior dos que os mais de 800 km –e as 16 horas de ônibus– entre a cidade de Dom Pedro (MA) e a capital do Ceará. “Durante a semana eu acordava, ia para o colégio às 7h20 e ficava lá até as 16h. Voltava para a casa e estudava até a meia noite”, conta o aluno do Colégio Farias Brito, que teve outros 30 aprovados neste ano.
Nos finais de semana, o ritmo diminuía (ele estudava de duas a três horas por dia) e na sexta-feira, havia tempo para a natação. “Fiz o vestibular do ITA nos dois anos anteriores e tinha decidido que esta seria a terceira e última vez”, diz.
A primeira tentativa foi no fim de 2011, quando ele ainda estava em Dom Pedro no último ano do ensino médio. Com a reprovação, Marcos percebeu que era preciso bem mais do que vontade para realizar o seu sonho. “Eu estava bem determinado, mas precisava de foco e direção, porque quando a gente estuda sozinho não rende tanto, não tem apoio”, conta.
Já em Fortaleza, Marcos entrou para uma turma de preparação específica para o ITA e começou a se dedicar. “Eu senti a mudança de cidade, mas queria muito passar”. Morava com a avó e o irmão, que também quer estudar no ITA, e enfrentava as 16 horas de ônibus para ver os pais apenas nos feriados prolongados.
Houve uma nova tentativa em 2012 (a primeira “pra valer”, segundo ele), mas a tão esperada notícia só chegou no fim do ano seguinte, com a divulgação da lista de aprovados no vestibular 2014. “Eu senti um alívio quando soube do resultado. Não ia fazer mais a prova do ITA, tinha decidido fazer a matrícula no IME [Instituto Militar de Engenharia, onde ele já tinha sido aprovado]. Agora estou curtindo o momento”, diz.
Desejo antigo
O sonho começou em 2009, quando Marcos participou da OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia) e conheceu as instalações do instituto, em São José dos Campos (SP). “Eu saí de lá e só queria estudar no ITA”, diz.
Além das muitas horas de estudo, ele diz que usava o Facebook aos finais de semana para conversar com os amigos de Dom Pedro, jogava futebol e saía pouco à noite, porque achava Fortaleza “uma cidade muito perigosa”.
Marcos afirma que sempre gostou muito das matérias de exatas, mas também se destacava em humanas. Nesse período de estudos, ele conta que teve que se dedicar mais aos livros de física, a prova dessa disciplina é considerada “imprevisível e muito difícil” no vestibular do ITA.
No Colégio Farias Brito, onde ele estudou, há duas turmas de pré-vestibular de aproximadamente 60 alunos (pré-selecionados por um exame da própria escola) com o foco exclusivo no ITA. Os estudantes têm professores, carga horária e material diferenciado dos que desejam passar em outros vestibulares do país. “Eu acho que o aluno do Ceará tem muita garra e energia, e como temos turmas adaptadas para o ITA, há uma soma de esforços”, diz Tales de Sá Cavalcante, diretor do colégio.
Disputa
Conhecido como um dos vestibulares mais difíceis do país, a seleção deste ano do ITA teve 7.279 inscritos para 170 vagas. Dos aprovados, dez eram mulheres e 160, homens.
Os cursos da instituição têm duração de cinco anos: dois anos de grade comum a todas as carreiras e mais três anos de especialização (que pode ser em engenharia aeroespacial, aeronáutica, civil-aeronáutica, da computação, eletrônica ou mecânica-aeronáutica).
A prova foi realizada em 23 cidades e Fortaleza foi a campeã de aprovados: 71. Em seguida aparece São José dos Campos (SP), 37 aprovados, e Rio de Janeiro, 16 aprovados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário