O GLOBO – Reunidos em assembleia na noite de quarta-feira, os agentes penitenciários do Maranhão descartaram fazer uma greve da categoria e decidiram realizar apenas um ato público, no próximo dia 28, contra o que eles acreditam que seja uma tentativa de esvaziamento de suas funções, por parte da Secretaria Estadual de Justiça e Administração Penitenciária (Sejap).
Para combater a crise no sistema penitenciário maranhense, a Sejap emitiu uma portaria que determina que todas as atividades de intervenção e segurança penitenciária sejam realizadas apenas por integrantes do Grupo Especial de Operações Penitenciárias (Geop). Com isso, na prática, a Polícia Militar do Maranhão é quem passa a tomar conta do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, que tem sete unidades. O Batalhão de Choque da PM também já está intervindo no presídio há pelo menos um mês, desde que começaram as brigas entre facções pelo controle das unidades e os consequentes motins.
O ato dos agentes penitenciários contra a portaria está marcado para as 8h, em frente à Sejap, em São Luís. César Castro, conhecido como César Bombeiro, do Sindspem (entidade que reúne os agentes), disse que uma greve neste momento seria “desgastante” para a categoria.
- Já há um desgaste muito grande com toda a crise carcerária que existe no Maranhão, e se houvesse qualquer coisa poderiam nos culpar, até correlacionar uma eventual greve a questões político-partidárias – afirmou ele.
De acordo com nota da Sejap, assinada pelo titular da secretaria, Sebastião Uchôa, a portaria visa apenas “reordenar e otimizar o trabalho dos agentes penitenciários no Complexo Penitenciário de Pedrinhas”. No ano passado, 60 presos foram mortos no complexo, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Neste ano, três já foram assassinados no complexo e um no presídio de Santa Inês (a 300 quilômetros de São Luís), na quarta-feira.
Guerra de facções teria motivado crimes
O detento Cledeilson de Jesus Cunha, de 37 anos, assassinado por enforcamento no Centro de Ressocialização de Santa Inês (a 300 km de São Luís), no Maranhão, no início da tarde de nesta quinta-feira, era acusado de ter participado do homicídio que vitimou um outro preso, Josinaldo Pereira Lindoso, de 35, no Centro de Detenção Provisória (CDP), no dia 1º de janeiro, em Pedrinhas.
Preso por assalto, Cunha e outros três membros da mesma facção teriam assassinado Lindoso, de um grupo rival, para manter o controle da unidade, segundo a polícia. O delegado Neuton Correa, do 12º Distrito Policial do Maracanã, que investigou o caso, disse que Josinaldo Lindoso havia sido transferido naquele dia da cela 4 do CDP, conhecido como “Cadeião da Morte”, para a cela dos acusados, e passava a primeira noite no local quando foi atacado e estrangulado.
O mesmo fim teria Cunha, que havia sido transferido há 15 dias de Pedrinhas para Santa Inês, onde ficava numa cela com outros nove presos. O Centro de Ressocialização de Santa Inês tem capacidade para 78 detentos, mas atualmente abriga 94.
Segundo familiares, Cunha vinha sendo ameaçado de morte, por ter “falado demais” sobre as facções que atuam nos presídios de São Luís em entrevistas concedidas a jornalistas de São Luís, após ser preso, acusado de envolvimento na morte de Josinaldo Lindoso. A polícia de Santa Inês ainda investiga o assassinato de Cunha.
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