A 30 dias do início da Copa do Mundo, o país concluiu menos da metade daquilo que se comprometeu a fazer para o Mundial. De 167 intervenções anunciadas, apenas 68 estão prontas, ou 41%. Outras 88 (53%) ainda estão incompletas ou ficarão para depois da Copa. Onze obras foram abandonadas e não sairão do papel. Nas últimas duas semanas, a Folha listou e checou o andamento de todas as ações que constam da chamada "matriz de responsabilidades", documento no qual o Brasil lista o que pretende fazer para a Copa.
A primeira versão da matriz é de 2010 e sofreu atualizações depois.
O setor mais beneficiado na ocasião foi a mobilidade urbana, para facilitar o deslocamento dos turistas nas cidades-sede. Só que, às vésperas da Copa, apenas 10% das obras estão concluídas –a maior parte está incompleta.
Burocracia e alterações de projetos são as justificativas mais recorrentes dos governos para explicar a situação.
A ausência de projetos de mobilidade é uma queixa comum da população e foi a principal motivação dos protestos do ano passado. Os turistas que forem a Cuiabá, por exemplo, não terão o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que liga o aeroporto ao centro (veja imagens da obra no vídeo abaixo). Problemas com licenciamento e desapropriação fizeram a obra ficar para depois.
Aconteceu o mesmo em Manaus, onde jogarão Inglaterra, Itália, Portugal e EUA.
ESTÁDIOS
Alvo de cobranças constantes da Fifa quanto aos prazos, os estádios que abrigarão as partidas também entram na conta do atraso.
Três dos 12 ainda carecem de ajustes. O Itaquerão (SP) não tem todos os telões e os camarotes estão sendo finalizados; a Arena da Baixada (Curitiba) não foi entregue; na Arena Pantanal (Cuiabá) falta instalar cadeiras.
Entre as cidades-sede, Curitiba é a em que, proporcionalmente, há mais obras incompletas. A maioria é de transporte, como um corredor rápido de ônibus entre o aeroporto e a cidade; houve atrasos no pagamento e as empresas rescindiram contratos para executar a obra.
Em São Paulo, a maioria das ações foi concluída. Mas não está finalizado o acesso viário ao Itaquerão, onde será a abertura da Copa, em 12 de junho. Até lá tudo estará pronto, segundo o governo.
Nos aeroportos, a concessão à iniciativa privada dos terminais de Guarulhos, Viracopos e Brasília ajudou o governo a levar ampliações adiante. Ainda assim, Viracopos descumpriu prazo para ficar pronto.
Guarulhos entregou o novo terminal, mas não a tempo de ele ser usado por boa parte dos turistas que chegará por lá –por falta de tempo, a maior parte das companhias aéreas continuará a usar os terminais antigos.
OUTRO LADO
As sedes da Copa argumentam que mudanças de projeto, demora em repasses de recursos do governo federal e até chuvas causaram atraso nas obras prometidas.
A Prefeitura de Fortaleza diz que os BRTs foram adiados "como precaução" para não atrapalhar o trânsito da cidade. E que a demora na obra do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) é causada pela mudança no projeto.
A organização em MT diz que o atraso no VLT de Cuiabá se deve a problemas no projeto e na execução e que o transporte estará funcionando a partir de janeiro de 2015.
Já no RN, a secretaria responsável atribui a demora nas obras de mobilidade urbana a questões burocráticas dos projetos e até a chuvas.
O secretário da Copa na Bahia, Ney Campello, diz que o governo engavetou o projeto do BRT (transporte rápido por ônibus) por considerar que ele inviabilizaria o metrô de Salvador. Presidente da autoridade portuária), José Rebouças afirma que a obra do porto da cidade atrasou por fatores como chuvas e greves.
A Prefeitura do Recife justificou o atraso de oito meses na conclusão da Via Mangue apontando lentidão na liberação de terrenos e de licenças ambientais, além de alterações no projeto original.
A Prefeitura de Porto Alegre atribuiu os principais atrasos à demora de repasses de recursos federais.
O Ministério do Esporte informou, por meio de nota, que não houve obras abandonadas pelo governo federal e que projetos que não forem concluídos até a Copa serão entregues à população.
Sobre o atraso na implantação de fibra óptica para a transmissão dos jogos, a Telebras disse que tudo estará resolvido antes da Copa.
Responsável por obras em oito aeroportos, dos quais nenhum ficará pronto até a Copa, a Infraero afirma que todos têm capacidade superior à demanda de passageiros e que priorizou intervenções em áreas de atendimento.
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