quarta-feira, 9 de julho de 2014

A queda do viaduto em Belo Horizonte é mais um triste episódio em um país onde a mobilidade faz vítimas diariamente

Na frente do viaduto que desabou em Belo Horizonte, ativistas do Greenpeace criticam o legado da mobilidade.
 
O viaduto que desabou em Belo Horizonte, na última semana, é uma metáfora perfeita de como a mobilidade urbana é tratada no Brasil. Do planejamento à execução, todas as pontas do processo estão frágeis. E afetam vidas: se a queda da estrutura matou duas pessoas e vitimou outras 23 em Minas Gerais, a cada dia uma mobilidade cambaleante também está matando – literalmente ou não – milhões de brasileiros pelas cidades.
 
Nesta segunda-feira, quatro ativistas mineiros do Greenpeace foram ao local do desmoronamento. Diante dos mais de R$ 700 milhões que viraram uma montanha de entulho, abriram uma faixa: “Este é o legado de mobilidade”. Triste legado. E desnecessário. Quando a primeira marretada anunciou o início das obras, o projeto já estava sob investigação do Ministério Público Estadual, que não demorou para identificar superfaturamento e má execução da obra.
 
Mesmo sob suspeita, a construção do viaduto seguiu em frente e causou uma tragédia. E essa não foi a única. Exatamente um mês atrás, uma viga caía da obra do monotrilho, em São Paulo, matando uma e vitimando outras duas pessoas. Ambos os projetos estavam no planejamento de obras de mobilidade para a Copa do Mundo. Um pacote que não vingou: para além das falhas de execução, a falta de planejamento e a inversão de prioridades impediram que os Estados entregassem vários projetos prometidos, como mostra um levantamento do Greenpeace.
 
Apesar de decepcionante, as promessas não cumpridas para a Copa já eram esperadas. Porque não se resolve em poucos anos um problema que é de décadas. Para saírmos do engarrafamento em que a mobilidade se meteu, é necessário um compromisso conjunto de todas as esferas de governo. E permanente. Políticas públicas de longo prazo só são possíveis com orçamento e planejamento. Atualmente, a mobilidade urbana não tem uma coisa nem outra no país.
 
O período eleitoral é uma ótima oportunidade para se colocar o assunto na mesa. Como líder do executivo, o governo federal precisa assegurar transporte como um direito social e dedicar investimentos para tanto, assim como o faz com saúde e educação. E mais que prover recursos, tem de garantir que estados e municípios tenham condições técnicas para planejar e executar seus projetos. Como problema estrutural que se tornou, a mobilidade urbana não tem solução mágica com pacotes bilionários que surjam eventualmente.
 
A base da mudança precisa ser contruída. E para já. Porque mais que desculpas públicas, queremos compromissos concretos. Mais que viadutos, queremos calçadas, ciclovias, ônibus e metrôs que funcionem. Queremos vida, afinal. E ela está sendo tirada de nós todos os dias. Seja com viadutos que desabam ou com os que são erguidos. Quando vamos além?* O Greenpeace agradece a moradores da área circunvizinha à obra, que permitiram acesso ao local e a realização das fotos. Eles dizem que seus prédios já sofreram abalos com a obra do viaduto e temem mais impactos.
 

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