Com programas mais próximos aos extremos ideológicos e campanhas pouco divulgadas, candidatos e pré-candidatos a presidente de chapas sem alianças afinam o discurso e tentam se diferenciar do tom moderado de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
No sábado (14), mesmo dia da convenção que oficializou o nome de Aécio, também foram definidos os candidatos do PSC, PSTU e PV. No domingo (15), foi a vez do PRTB. Até o fim do mês, PSOL, PCB e PSDC também têm datas marcadas para seus eventos. Todos os partidos afirmam que terão candidatos próprios nas eleições, embora o registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) vá até o dia 5 de julho. Até lá, decisões podem ser revertidas.
A grande maioria dos "nanicos" promete reformas de Estado radicais e prioridade a temas secundários na agenda dos principais candidatos.
Pelo PV, o ex-deputado Eduardo Jorge (PV) defende a descriminalização do aborto, a regulamentação do consumo e venda de maconha e ainda propõe uma reforma política que extinga o Senado, reduza o número de deputados e aumente a quantidade de vereadores –que não receberiam salário para exercer suas funções.
Ele também sugere que o país adote o regime parlamentarista no lugar do presidencialismo.
"Acho que a ausência de debates desses temas na campanha eleitoral é uma falta de coragem dos três candidatos, que têm o discurso dominado pelos marqueteiros", criticou Eduardo Jorge à
Folha. "Duvido que, na intimidade, três pessoas esclarecidas como eles [Dilma, Aécio e Campos] pensem muito diferente de mim".
Antes de abdicar da pré-candidatura pelo PSOL, na sexta-feira (13), o senador Randolfe Rodrigues (AP) também prometia "colocar o dedo na ferida" com "temas que os outros candidatos estão fugindo". Ele priorizava assuntos como tarifa zero para transporte público, regulamentação da venda da canabis, defesa dos direitos LGBT e a unificação das polícias civil e militar.
A plataforma da atual pré-candidata do partido, a ex-deputada Luciana Genro (RS), absorve as propostas, mas dará mais importância a "transformações no poder econômico" como auditoria e revisão do pagamento da dívida pública e maior tributação sobre os mais ricos. "Mais de 40% do orçamento do Brasil vai para os juros da dívida pública, o que faz com que o investimento na área social seja muito baixo", disse.
O programa dos dois candidatos vai de encontro ao do pastor Everaldo Pereira (PSC), que tem 4% de intenções de votos e empata tecnicamente com Campos.
Conservador, o candidato é favorável ao fortalecimento das Forças Armadas, da Polícia Militar e afirma que "não há polêmica" em relação à união homoafetiva, descriminalização de drogas e aborto. "Sou contra", afirmou.
Questionado de que forma, caso eleito, lidaria com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que tornou constitucional a união estável entre pessoas do mesmo sexo, ele diz que "quem faz as leis são os parlamentares".
"Mas em todas as instâncias que eu puder colocar minha opinião, colocarei. O Congresso decide, o presidente pode vetar, mas sou um democrata. No entanto, vou me empenhar ao máximo para que a minha posição seja respeitada", afirmou.
O posicionamento é próximo ao de Levy Fidelix (PRTB), que se diz de "um dos poucos partidos de direita de verdade". O candidato –que já tentou, sem sucesso, ser governador, prefeito, deputado federal e vereador por São Paulo, além de presidente– também se põe contra "tudo isso" e simula a aliança PSB/Rede com o não-oficializado PMB (Partido Militar do Brasil).
"Queremos os militares participando do regime democrático. Mas não por golpe, claro", afirmou. Eymael (PSDC), três vezes candidato a presidente, é o pré-candidato nanico que menos deve se pautar em polêmicas. Segundo o ex-deputado, a intenção do partido é "dar um destaque muito forte ao conteúdo da Constituição brasileira" e defender uma "política voltada para o desenvolvimento".
ESTATIZAÇÃO x PRIVATIZAÇÃO
Se, de um lado, o pastor Everaldo diz que "privatizará tudo o que puder", os partidos de esquerda querem reestatização de bancos, grandes empresas e empresas privatizadas.
"Nossa campanha deste ano é uma resposta às reivindicações populares. Para isso, propomos a reestatização das empresas privatizadas, cortar o pagamento das dívidas internas e externas e acabar com o controle econômico que as empresas têm sobre a política", disse Zé Maria (PSTU), quarta vez candidato a presidente, com 1% das intenções de votos segundo o Datafolha.
O candidato do PCB, Mauro Iasi, fala em "acabar com o pacto social entre a burguesia e os trabalhadores, como o PT fez". "Não acreditamos que seja suficiente uma reforma política ou uma nova constituinte. Precisamos de uma reforma com o que chamamos de poder popular", afirmou.
Quando anunciou pré-candidatura, o psolista Randolfe Rodrigues afirmou que tentaria se unir em uma "frente de esquerda" com PSTU e PCB para as eleições.
Os dois partidos, no entanto, afirmam que "diferenças programáticas" encerraram a possibilidade. Segundo Zé Maria, o PSOL tem se aproximado do "senso comum" eleitoral. Iasi completa: "Queremos apresentar alternativas socialistas, não a mesma coisa".
Luciana Genro diz que, apesar da convenção do PSTU já ter acontecido, tentará uma aproximação com a legenda antes do registro da chapa.
Ao contrário de Randolfe, visto como moderado por alas do PSOL, ela faz parte dos chamados "radicais" do partido, expulsos do PT em 2003 e de maior
proximidade com grupos de extrema-esquerda.
"Acredito que eu sendo a candidata, há uma aproximação maior com o PSTU, mas vamos discutir isso ainda", afirmou. Luciana diz que se reunirá com lideranças do partido nos próximos dias.
INDEFINIDO
Com convenção marcada para o dia 29, o PEN ainda não decidiu se lançará a ex-diretora da Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) Denise Abreu por conta dos recursos de campanha, segundo o presidente da sigla, Adilson Barroso. Caso não tenha candidato, o partido deve apoiar Aécio Neves.
Denise tem 1% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
FOLHA
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