Se o fim do estilo fisiológico e cleptocrata de governar do PT e do PMDB depender da reforma política que está em discussão no Congresso Nacional, nada vai mudar. Ela é o retrato perfeito de uma dupla alienação: (a) das oposições (que não conseguem o apoio majoritário das massas: o PSDB foi refutado nos protestos de 15/3, só tem 6% da simpatia do eleitorado pelo partido e não ataca a troyca que está governando de fato: Renan, Cunha e Temer); (b) das classes dominadas (as que não governam o País e que ignoram ou odeiam a política e os políticos). Os grupos hegemônicos (PMDB-PT, apoiados por grandes empresas e bancos) estão preparando o terreno para suas reeleições em 2018. É a perpetuação no poder dos políticos profissionais (Renan, Cunha, Lula, Dilma, Temer, Collor etc.) que compõem essa aliança.
A reforma está se convertendo em puro leopardismo eleitoral (“é preciso que tudo mude para que tudo fique como está”, como diria personagem de Tomasi di Lampedusa – 1896-1957). O andar de cima governa como governa, inclusive cleptocratamente (com roubalheiras), porque conta com a nefasta complacência tanto da pequena burguesia somada às classes intermediárias (que, baseadas em seus critérios de meritocracia querem distância da “imundície” fétida da política) como das classes populares (subalternas e marginalizadas), que não têm a mínima noção do que se está discutindo (a ignorância é feliz; a consciência crítica é que gera tristeza).
As forças dominantes jogam com duas possibilidades: 1ª) não aprovar nada (com tanta polêmica entre eles pode-se não chegar a nenhum consenso e aí as coisas ficam como está); fundamental para essa hipótese é a conivência de Gilmar Mendes com a bandalheira do financiamento empresarial; 2ª) aprovar somente o que interessa para a continuidade no poder: “distritão” (eleição majoritária para deputados e vereadores: os mais votados são eleitos, sem coligações) com financiamento empresarial aos partidos; de quebra um ou outro remendo como o fim da reeleição nos cargos de Presidente, Governador e Prefeitos.
O que conquistamos, com a redemocratização (1985), foi apenas a democracia eleitoral (possibilidade de votar a cada quatro anos), fortemente viciada pelo dinheiro e pela corrupção das bandas podres das classes poderosas que financiam e compram os políticos para a defesa dos seus exclusivos interesses (formando assim esdrúxulas bancadas dentro do Congresso: da bala, do boi, da bíblia, do bife, das bebidas, dos bancos, das betoneiras – empreiteiros -, da buraqueira mineradora etc.). Estamos longe de uma decente democracia cidadã (que pressupõe o fim da desigualdade extremada assim como respeito aos direitos de todas as classes sociais). No Brasil o poder é muito concentrado e está nas mãos de poucos, que constituem uma casta, uma elite, que manda e desmanda com o poder do seu dinheiro.
A reforma política em andamento constitui uma ofensa ao povo brasileiro que, alienado em termos políticos (ora por ignorância, ora por ódio à política), não move uma palha para promover grandes mudanças. A força de alguns movimentos sociais atuantes (CNBB, OAB, MCCE etc.) é um pingo d’água no oceano da depravação político-econômica. Somos um povo que está ficando craque em protestar (isso já constitui uma virtude, não há dúvida), mas que não sabe converter a indignação da massa em movimentos políticos transformadores (como está fazendo o Podemos na Espanha, por exemplo).
O maior equívoco do Tiririca, além dele próprio como político, foi dizer que “pior que está não fica”. Com a reforma política projetada o risco enorme é de que tudo ficará pior. Não se mexe na estrutura do poder, não se estimula o fim da alienação do povo (que quer distância da consciência crítica). Os políticos profissionais agradecem penhoradamente essa alienação da massa que não se empenha por mudanças (a massa é, cada vez mais, “ali-é-nada”). A casta anda de costas para a população e a população vive de joelhos ou às cegas frente às castas governantes. Não existe terreno mais fértil para o fracasso coletivo. Nessa toada, não será tarefa fácil tirar o Brasil do atoleiro do semi-desenvolvimento.
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