E para começar o dia muito bem, deixo com vocês o artigo para lá de provocador do Abdon Marinho em que o advogado e defensor dos direitos humanos faz uma breve análise do Maranhão que une governo e oposição contra a instalação da CPI da Agiotagem. Ainda hoje o Blog do Robert Lobato vai tratar do assunto. Aguardem.
Enquanto isso fiquem com o artigo do candidato a desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão, mestre Abdon Marinho:
”NO MARANHÃO ATÉ OS CÉUS MENTEM” (Reproduzido a partir do Facebook)
”O Maranhão só pode está muito errado para oposição e governo estarem do mesmo lado.”
Foi no começo dos anos noventa que adquiri a obra “Sermões” do padre Antônio Vieira, edição da editora Nova Aquilar, está comigo até hoje. Li os volumes ainda naqueles anos, vez por outra me lembro de uma coisa ou outra e pego os livros para conferir. Muitas vezes são os fatos do dia que trazem Vieira à lembrança. Hoje foi um destes dias, desde cedo me vinha mente essa frase do título, não assim, um pouco distorcida, corri aos livros e encontrei a parte que me assaltava a lembrança e que segue abaixo:
“Os vícios da língua são tantos, que fez Drexélio um abecedário inteiro e muito copioso deles. E se as letras deste abecedário se repartissem pelos estados de Portugal, que letra tocaria ao nosso Maranhão? Não há dúvida, que o M. M de Maranhão, M de murmurar, M de motejar, M de maldizer, M de malsinar, M de mexericar, e, sobretudo, M de mentir. Mentir com as palavras, com as obras, e com os pensamentos, que de todos e por todos os modos aqui se mente. Novelas e novelos são as duas moedas correntes desta terra, mas têm uma diferença, que as novelas armam-se sobre nada, e os novelos armam-se sobre muito, para tudo ser moeda falsa. Na Bahia, que é a cabeça desta nossa província do Brasil; acontece algumas vezes o que no Maranhão quase todos os dias. Amanhece o sol muito claro, prometendo um formoso dia, e dentro em uma hora tolda o céu de nuvens, e começa a chover como no mais entranhado inverno. No Maranhão, até o sol e os céus mentem.” (Padre Antonio Vieira – Sermão da Quinta Dominga da Quaresma – 1654).
Embora o texto pareça ter sido escrito para os dias de hoje e sobre tudo, haverão de perguntar-me a razão da lembrança. Explico:
Há alguns dias, acossado por denúncias de envolvimento com alguns delitos, alguns de grande magnitude, o deputado Raimundo Cutrim, que não é um qualquer, foi secretário de segurança do estado por quase uma década e informa ser aliado de primeira hora do atual grupo que está no poder propôs uma CPI para investigar os efeitos deletérios da agiotagem nas administrações públicas municipais, na Assembleia Legislativa e o envolvimento das quadrilhas de agiotas, com diversos crimes, inclusive assassinatos.
Pois bem, como, pelo menos nos veículos que costumo ler, não vi mais notícia alguma sobre o assunto indaguei a um amigo a quantas andava a dita CPI, ao que fui informado que num colegiado de 42 deputados, não se estava conseguindo as 14 assinaturas necessárias para que a proposta vingasse. Como assim, não tem na ALMA ao menos 14 deputados interessado em investigar um assunto tão grave? Indaguei. Mas e fulano? Beltrano? Sicrano? Insisti. O amigo disse nenhum, acredito que a CPI já nasceu morta, foi a resposta que recebi.
Foi ai que lembrei-me de Vieira.
No começo dos anos noventa estava na ALEMA, era assessor. Tinha uma efetiva militância. Naquele tempo, até no Maranhão as coisas são nebulosas, sabíamos com uma certa clareza quem era oposição e quem era governo, cada um dos agentes políticos em maior ou menor grau sabia o seu papel. As coisas me pareciam mais definidas.
O que temos hoje? Pelo que fui informado tanto o governo quanto a oposição estão do mesmo lado. Vamos combinar uma coisa. O Maranhão só pode está muito errado para oposição e governo estarem do mesmo lado.
Quer dizer que não interessa aos senhores deputados uma investigação que traga luz a essa verdadeira sangria aos cofres públicos? A ninguém interessa desbaratar essas quadrilhas que se apropriaram do dinheiro da saúde, da educação, das obras e das ações sociais em quase todos os municípios maranhenses? Quer dizer que a ninguém interessa saber se deputados estavam negociando com os agiotas as emendas parlamentares que inseriam nos orçamentos do estado? A ninguém interessa saber se é mesmo verdade que essas quadrilhas usavam policiais como cobradores para achacar prefeitos e outras autoridades? A ninguém interessa saber se haviam delegados sendo usados como achacadores? Não. Suas excelências devem ter outros assuntos com os quais se preocuparem, talvez com o final da novela das nove.
Claro que o deputado Cutrim busca um atestado de bons antecedentes emitido pelo Parlamento estadual, mas isso não impede que os demais deputados façam o seu trabalho como devido e apurem todos esses fatos. Não é segredo para ninguém, se ouve aqui e ali notícias de fatos aterradores. Notícias do dinheiro público sumindo do dia para noite para irrigar contas de agiotas. Quadrilhas retirando dos cofres públicos milhões e milhões de reais. Não há, ao meu sentir, uma explicação plausível que justifique suas excelências não querem investigar, não quererem aprofundar esse debate, desnudar essa bandalheira toda. Será que temem algo? O quê?
A que nível chegou o Parlamento do Maranhão onde deputados de oposição e do governo se unem não para buscar melhorias para o povo sofrido, mas para ocultar desvios e roubos? Pode piorar? No Maranhão tudo pode piorar, jamais imaginei que chegassem a isso. Chegaram.
Uma vez me disseram que em política só se mudavam os penicos as m… eram as mesmas. No Maranhão, parece que nem os penicos mudam. É uma lástima. Até quando, Deus meu?
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