O PMDB já contabiliza pelo menos 75 votos a favor da decisão de deixar o governo da presidente Dilma Rousseff, em um total de 127 votantes na reunião do diretório que acontece na próxima terça-feira, dia 29, o que dá uma vitória tranquila ao grupo que defende o rompimento, disse à Reuters uma fonte que acompanha de perto o ânimo dos peemedebistas.
O número pode ser ainda maior, chegando a 85 votos, diz a fonte. A decisão praticamente tomada pelo partido de desembarcar do governo e entregar os cargos marcará a maior derrota do governo na tentativa de manter a base unida e evitar a aprovação do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados.
Com sete ministros e a maior bancada da base aliada no Congresso, o PMDB, mesmo infiel, ainda é a maior esperança do Planalto para ter os votos necessários para barrar o processo.
Na manhã de quarta-feira, a presidente foi explícita ao declarar que o governo “tem muito interesse” que o partido permaneça na base. “Nós queremos muito que o PMDB permaneça no governo. Tenho certeza que meus ministros têm compromisso com o governo”, afirmou a jornalistas.
Uma última tentativa para segurar o afastamento do partido foi feito na noite de terça-feira, depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney, e a própria presidente reuniu os ministros do PMDB para fazer mais um apelo.
Os senadores, apoiados pelos ministros, tentaram empurrar a reunião do diretório para o meio de abril, no final do prazo limite de 30 dias acertado na convencao, em 15 de março.
A estratégia foi abortada em uma reunião com o vice-presidente Michel Temer.
Inicialmente marcada com os ministros, que preferiam se manter no governo, e alguns senadores do partido que concordavam com o adiamento, o encontro terminou dominado por um grupo de 30 deputados que se anteciparam e convenceram Temer a enterrar a ideia alegando que havia já consenso para manter a reunião no dia 29 e uma mudança daria a ideia de que a pressão de Lula teria surtido efeito, contou a fonte peemedebista.
Ao abandonar o governo, o PMDB libera seus parlamentares para votarem como quiserem no processo de impeachment. A fonte reconhece que a decisão da direção do partido não mudará em nada a disposição dos parlamentares, seja a favor ou contra o governo.
“Nenhuma decisão do partido vai definir voto de deputado ou senador”, disse. Mas uma boa parte da bancada na Câmara já pedia o afastamento.
No Senado, com o presidente da Casa ainda dando apoio pelo menos formal ao governo, o Planalto ainda espera ter uma margem maior para evitar o processo, caso perca também no plenário da Câmara, mas esse otimismo já diminuiu.
“Se chegar até lá, o Senado não vai segurar e nem Renan tem intenção de evitar”, disse à Reuters outra fonte do partido.
Durante a reunião no Palácio do Jaburu, na terça-feira à noite, foi acertado que os sete ministros peemedebistas terão até o dia 15 de abril para que deixem os cargos. Nenhum deles gostaria de sair, mas, com a exceção de Hélder Barbalho, dos Portos, eles não têm força em seus Estados para tentar reverter a tendência de desembarque.
Na avaliação de uma das fontes peemedebistas, dos sete ministros -Eduardo Braga (Minas e Energia), Hélder Barbalho (Portos), Henrique Eduardo Alves (Turismo), Mauro Lopes (Aviação Civil), Kátia Abreu (Agricultura), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Marcelo Castro (Saúde)- os três últimos são os que mais teriam tendência a ficar no governo, mesmo sob ameaça de expulsão do partido.
Amiga pessoal da presidente e há pouco mais de dois anos no PMDB, Kátia Abreu não tem uma base peemedebista sólida. Da mesma forma, Pansera está no partido apenas desde 2014. Marcelo Castro, ao contrário, é um peemedebista de longa data mas, de acordo com seus companheiros de partido, a ele interessa mais nesse momento se manter ministro.
Na manhã da quarta-feira, os dois ministros deram entrevista no Palácio do Planalto criticando abertamente a possibilidade do PMDB deixar o governo e jurando fidelidade à presidente, afirmando que poderiam deixar os cargos temporariamente para votar contra o impeachment, se for necessário.
“Minha posição é que nós não devemos deixar o governo. O PMDB veio até aqui com o governo, tem o vice-presidente. Seria uma grande irresponsabilidade ter ministros da importância como Saúde, Minas e Energia e Agricultura, e em um momento de crise tão profunda como essa a gente esvaziar os ministérios", afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia.
Depois de dizer que concorda “100 por cento” com Pansera, Marcelo Castro acrescentou que o país precisa do PMDB mais do que nunca e “é hora de contribuir” e não de “pensar em sair”.
A decisão do partido, no entanto, é de que os ministros que relutarem em sair do governo estarão dando sinais de que irão sair do PMDB. Apesar de evitar falar claramente em expulsão, a fonte lembra que as decisões serão tomadas pelos diretórios estaduais. “A decisão está lá. As conversas aqui em Brasília não querem dizer nada lá na ponta”, argumentou.
Por Lisandra Paraguassu
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